A obesidade é considerada o mal/a doença do século, porque nunca na história uma doença apresentou um número tão grande de pessoas afetadas, nem mesmo a Peste Negra que afetou e matou 33% da população da Europa na Idade Média. No Brasil, segundo um levantamento de 2011 (o que de uns anos pra cá já deve ter piorado) 48,5% dos adultos estão acima do peso e 33% das crianças após os 5 anos de vida também estão obesas ou com sobrepeso.
As mudanças do estilo de vida nos últimos 30 anos, levaram essa geração a ter uma expectativa de vida menor que a de seus pais, ocorrendo em muitos países, devido a frequência cada vez mais precoce de doenças associadas a Obesidade como: Diabetes, Pressão Alta, Dislipidemia ou Aumento nas Gorduras do Sangue (colesterol e triglicérides), Infartos do Coração e Derrames Cerebrais.
Infelizmente, a causa do aumento da Obesidade não é secundária a nenhuma doença ou alteração hormonal, nem mesmo a tendência genética: “Sou obeso porque na minha família todos são”.
Todas essas mudanças podem ser resumidas:
1 – Aumento na Ingesta de Calorias: aumento da utilização de alimentos industrializados cheios de gordura, sal e açúcar, chamadas de calorias vazias, para melhor aceitação e aumento das vendas. Redução da utilização de alimentos in natura, ou seja, frescos em nossa alimentação.
2 – Redução no Gasto de Energia: a disseminação de tecnologias que “facilitam” a nossa vida como: transportes, celulares, televisão, videogame, computadores…, e a redução do movimento realizado durante o dia, desde uma caminhada até as brincadeiras das crianças, devido à violência e trânsito nas ruas, não deixando passar em branco a preguiça.
Esse desbalanço entre o que comemos de calorias (energia) e o que gastamos, levou ao acúmulo progressivo de peso nas pessoas, gerando o Sobrepeso e a Obesidade. Isso é muito mais cruel na criança que ainda não tem discernimento do que é e o que não é saudável, e não conseguem entender as complicações à longo prazo de ela ingerir doces diariamente.
O principal agravante na criança é que a sua necessidade de calorias por dia é muito menor que o adulto, praticamente metade, portanto, uma quantidade muito menor desses alimentos altamente calóricos já é suficiente para que a criança engorde rapidamente.
Por exemplo: um pacote de bolacha ‘Passatempo’ recheada tem 810 calorias, número que equivale a 40-70% de todas as calorias que seu filho deveria comer durante todo o dia, incluindo café da manhã, lanches da manhã e da tarde, almoço, jantar e ceia. Ficou assustado? Mas pode piorar muito caso você acrescentar mais 500 ml de suco de frutas adoçados, leite de vaca integral ou refrigerante. Seu filho já alcançou toda a sua necessidade energética do dia, resumindo, tudo que ele comer após isso vai virar gordura, independente de ser uma fruta, uma saladinha ou um prato de arroz com feijão e carne.
Esse tipo de alimento é o típico exemplo das Calorias Vazias, que são alimentos ricos em açúcares, gorduras e calorias sem nenhuma contrapartida para a saúde, pois mesmo os alimentos supostamente enriquecidos, não apresentam os mesmos benefícios à saúde de um alimento criado e com os nutrientes balanceados pela Natureza. Outros exemplos são os refrigerantes e sucos/néctar de fruta adoçados, batata frita, balas e chicletes. Esses alimentos devem ser evitados e consumidos com moderação, no máximo uma vez por semana. Muitos Pais não conseguem perceber que o filho come em excesso, mesmo que não seja um grão de arroz ou feijão, e perdem a oportunidade de evitar a obesidade.
Um dos grande causadores de Obesidade Infantil no Brasil é o leite integral e todos os outros líquidos (Sucos de fruta adoçados como Del Valle, Tang e Sucos de Soja) dado nas mamadeiras, exceto a água. Existe um pensamento comum em nossa cultura de que criança precisa tomar grande quantidade de leite, porém o leite é um alimento completo, falando do leite materno, apenas nos primeiros 6 meses de vida e por isso é obrigatório a introdução de dieta sólida. Após os 2 anos de vida, a quantidade de leite recomendada é de 200-500 ml de leite integral por dia, correspondendo a no máximo 25% do total de calorias necessárias diariamente pela criança.
Esse excesso de leite é agravado ainda mais pela ‘mania brasileira’ de acrescentar nescau, toddy, mucilon, arrozina, quik…, ao leite das crianças. Além de não acrescentar nada para a saúde da crianças, ainda aumenta muito a quantidade de calorias, induzindo à dores na barriga, constipação, intestino preso e o pior de tudo: a Obesidade. Uma criança, que toma 1 litro de leite por dia (4 mamadeiras de 250 ml) com 2 colheres de sopa de nescau em cada uma, está ingerindo 800 calorias por dia apenas do leite, ou seja, 70-80% de tudo o que ele deveria comer. Lembrando que não faz diferença se esse leite é tomado durante o dia ou à noite, sempre me refiro ao total em 24 horas.
A insistência desses mesmos pais para que a criança, já satisfeita com tanto leite, coma um pouco de comida nas outras refeições, também é um fator considerável. Classicamente, os pais chegam à consulta comigo dizendo que seu filho não come nada e que precisam de uma vitamina, mas no final da consulta eu constato que na realidade a criança já está acima do peso e que ela deve iniciar uma dieta. Infelizmente, o leite não é considerado um alimento no Brasil.
Some-se a tudo isso o fato de nossas crianças serem extremamente sedentárias, preferindo qualquer atividade paradas do que correr, pular ou brincar com os amigos. Já escutei muitas crianças dizerem que odeiam suar. Hoje no Brasil, apenas 20% das crianças atingem o mínimo recomendado de atividade física diária.
O recomendado é que as crianças faça pelo menos 1 hora de exercícios por dia, que pode ser esportes como: futebol, natação, balé ou livres: correr, pega pega, pular corda, andar de bicicleta. Muitos pais e crianças tem muita dificuldade em alcançar esse objetivo, mas devemos lembrar que 25-30 anos atrás, todas as crianças brincavam praticamente todo o período que não estavam na escola, ou seja, pelo menos 4 horas por dia e ainda queriam mais.
Hábitos Saudáveis são sempre criados na Infância, sejam eles alimentares, atividades físicas, educação e vontade de estudar. O principal papel dos pais é ensinar, estimular e quando necessário, cobrar que esses hábitos sejam colocados em dia.
Pelo bem de nossas crianças, eu espero que muitos pais se conscientizem disso!
Dr. Christian Helfstein
CRM/SP 119.947