Bronquiolite

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A Bronquiolite é uma das doenças mais comuns nos meses do outono, tendo grande predominância nos meses de abril e maio, sendo grande motivo de preocupação dos papais e de muito trabalho para os Pediatras em Ambulatórios e Pronto Socorros.

Essa doença é causada por inúmeros Vírus, principalmente pelo Vírus Sincicial Respiratório e Metapneumovirus humano. Pode ocorrer em inúmeras idades, mas seus sintomas mais importantes ocorrem nos menores de 2 anos de vida. Praticamente 100% das crianças menores de 2 anos já contraíram Bronquiolite pelo menos uma vez, sendo o pico entre os 3-6 meses.

Por ser causada por inúmeros Vírus, a Bronquiolite pode ocorrer várias vezes, mas os casos graves são relacionados apenas à um número pequeno de Vírus, já citados acima. Na maioria das vezes, quadros recorrentes ocorrem em crianças muito expostas a doenças de contaminação aérea, como creches, aglomerações, casa com muitos moradores ou muitas crianças, alérgicos e contato com cigarros.

Essa infecção leva à uma lesão inflamatória rápida nos bronquíolos (pequenos tubos que levam o ar ao local de troca do oxigênio). A lesão gera inchaço nesse tubo com fechamento consequente de sua luz, impedindo a passagem de ar com facilidade, gerando tosse e falta de ar.

Muitas mães relatam que a tosse aparenta ter secreção, inclusive muitos pediatras e médicos acreditam nisso, porém a causa real dessa tosse é que a Bronquiolite leva ao inchaço da parede desse tubo com espessamento da secreção pulmonar normal, levando à esse ruido característico durante as crises de tosse.

Essa tosse não tem secreção, catarro e nem peito cheio, mas muitas vezes a tosse aparenta ser produtiva. Esse é o motivo de não ser indicado medicações para tosse ou expectorantes.

Fases características e duração da Doença

A Bronquiolite tem basicamente 3 fases com duração total de aproximadamente 15 dias em média, mas pode variar de 7-21 dias:

Início: parece uma gripe como qualquer outra com febre, coriza, irritabilidade e inapetência (2-5 dias);
Fase Crítica: durante a melhora da fase gripal, inicia o comprometimento pulmonar mais importante com falta de ar, cansaço e dificuldade nas mamadas. Dura uma semana e é o período de risco de internação. Sempre observar sinais de cansaço;
Fase Convalescença: dura de 3-10 dias com tosse seca, principalmente noturna, mas sem cansaço.

Devido a essa duração prolongada, a doença leva tantos dos pais, como das crianças ao limite do cansaço.

Gravidade e fatores de má evolução

Apesar de toda a fama da Pneumonia, a Bronquiolite é a principal causa de internação e morte no primeiro ano de vida devida a infecções pulmonares. Existem diversos fatores de risco que levam de 1-5% de todas as crianças a apresentarem quadros mais graves de Bronquiolite, levando a internação:

  • Baixo peso de nascimento;
  • Prematuridade;
  • Infecção gerada em menos de 3 meses de vida;
  • Menino (via aérea menor);
  • Contato com aglomerações ou creche;
  • Fumo em casa;
  • Condição socioeconômica desfavorável;
  • Doenças pulmonares;
  • Doenças Cardíacas;
  • Doença Neurológica.

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O intervalo entre o contato com o Vírus até o desenvolvimento da doença é de aproximadamente 5 dias, e o período de transmissão através da secreção nasal ou tosse é de até 21 dias.

Mas é claro que você não deve se desesperar no caso de um ou mais fatores existirem em seu filho, pois os quadros graves ocorrem em, no máximo, 10% das crianças nas diferentes estatísticas pelo mundo, sendo a internação menos comum ainda.

Internação

A maioria das internações ocorrem até os 3 meses de idade (50%) com duração média de 3-7 dias, sendo apenas necessária no caso de falta de ar ou cansaço.

Clique aqui para saber como identificar os casos mais graves e associados a falta de ar. Nesses casos é necessário uma avaliação médica!

Nas crianças maiores é mais fácil observar a retração de fúrcula quando ocorre uma depressão ou buraco na base do pescoço, quando a criança está cansada.

Infectividade

A transmissão ocorre desde a infecção, até aproximadamente 21 dias após o início dos sintomas, através da secreção nasal ou de gotículas na tosse. A transmissão só ocorre por contato próximo ou menor de 1 metro, e não é necessário o isolamento da criança, mas todas deviam ser afastadas da escola.

Agentes causadores

Os principais causadores de Bronquolite são Vírus Sincicial Respiratório, Metapneumovirus Humano (os dois mais graves), Rinovirus e Influenza A (causadores de Gripes e Resfriados). Existem outros vírus ditos emergentes, ou seja, novos causadores de Bronquolite, como Bocavírus.

Infecção Bacteriana associada ou Pneumonia

Crianças com Bronquiolite comprovada e Febre, conforme inúmeros estudos comprovam, tem pequenas chances de apresentarem coinfecções bacterianas, como pneumonia, infecções urinárias ou no sangue.

O mesmo Vírus que provocam a Bronquiolite, pode causar Pneumonia, mas nesse caso será uma Pneumonia Viral cujo tratamento é exatamente o mesmo da Bronquiolite sem Pneumonia Viral.

Dica: sempre desconfie de Pneumonia Viral, e peça para levar o Raio X de tórax de seu filho ao seu Pediatra de confiança. No caso de prescrição de berotec, atrovent, aerolin ou salbutamol, brycanil, e outros medicamentos usados na Asma/ Bronquite, junto com o antibiótico para a Pneumonia.

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Exames diagnósticos

Para a realização do diagnóstico de Bronquiolite não são realizados exames rotineiramente, sendo estes necessários apenas para os casos graves com necessidade de internação. Apenas o exame de identificação viral (apenas para Vírus Sincicial Respiratório), realizado geralmente após a internação, seria o recomendado.

O raio-x é utilizado no caso de suspeita de Pneumonia, Miocardite (infecção viral do coração) e se o diagnóstico de Bronquiolite não pode ser estabelecido clinicamente.

Observe como o Raio X de Tórax Normal pode ser muito parecido com Raio X de uma Bronquiolite , mas é completamente diferente do Raio X de uma Pneumonia. Todo Raio X apresenta uma manchinha branca ao lado do coração à direita no exame e esquerda nessa foto; esse imagem corresponde aos brônquios fontes direitos (canos que levam ar aos pulmões).

Tratamento

O tratamento da Bronquiolite foi atualizado em 2006, após um grande estudo que acompanhou milhares de crianças com essa doença para definir o melhor tratamento, e confirmado a eficácia do mesmo nos últimos anos. Porém, pesquisas recentes mostram, que uma porcentagem grande dos Pediatras ainda tratam a Bronquiolite com broncodilatadores, como: berotec, aerolin, salbutamos ou brycanil; e corticoides como: prednisolona, dexametasona ou betametasona.

Basicamente, descobriu-se que não existe nenhum tratamento curativo ou que efetivamente reduza gravidade, risco de complicações ou morte. Todos os tratamentos são de suporte, com o intuito de melhorar o estado geral da criança enquanto combate a infecção.

  • Oxigênio: tratamento mais eficaz para resolução da falta de ar, porém não é curativo. Utilizado durante as internações;
  • Hidratação: muito importante devido a perda de líquidos causada pela respiração acelerada e redução na ingesta de líquidos. Pode ser por boca ou pela veia, sem nenhum benefício para a endovenosa, exceto no caso de cansaço extremo com necessidade de jejum;
  • Inalação com Soro Fisiológico 0,9% ou Hipertônica 3%: tem efeito similar, e são a base do tratamento de suporte da Bronquiolite, podendo ser utilizada várias vezes ao dia;
  • Anti-térmicos no caso da criança apresentar febre, podendo durar de 1-4 dias, como a dipirona, paracetamol ou ibuprofeno;
  • Inalação com berotec, salbutamol, aerolin e etc: todos chamados de broncodilatadores, utilizados primariamente na Asma. Não tem efeito nenhum na Bronquiolite;
  • Prednisolona, dexametasona ou betametasona: são todos corticoesteróides, com inúmeros efeitos colaterais e não tem nenhuma indicação na Bronquiolite;
  • Xaropes para tosse: não tem nenhuma indicação na Bronquiolite, nenhum deles;
  • Antibióticos: Assim como os xaropes para a tosse, ele também não tem recomendação na Bronquiolite.

Além disso, só resta aos pais esperarem o completo restabelecimento da criança, ocorre em média após 2 semanas.

Dúvidas frequentes

Apesar de ser uma das doenças mais comuns no primeiro ano de vida, ainda existem inúmeros erros que são cometidos pelos Pediatras e aprendidos, repetidos ou disseminados pelos pais.

Bronquiolite é Pneumonia?

A Bronquiolite é uma doença viral, enquanto a Pneumonia pode ser basicamente, viral ou bacteriana, sendo essa última com mais frequência como Pneumonia. A associação de ambas (bronquiolite e pneumonia bacteriana) é rara, praticamente só ocorre em casos graves e geralmente após vários dias de internação.

A Pneumonia Viral pode ser causada também pelos mesmos Vírus causadores de Bronquiolite, e aliás, a associação de Bronquiolite e Pneumonia Viral é a mais comum causa de alteração no RX de Tórax das crianças.

Na prática, toda vez que um bebê tem chiado no peito, a causa é viral (seja pneumonia ou bronquiolite), exceto em raros casos de Pneumonia Afebril do Lactente, que ocorre até os 6 meses de idade em mães contaminadas por Clámidia no momento do parto.

Bronquiolite é Asma ou Bronquite?

A Asma é uma doença inflamatória de causa alérgica, ou seja, sem febre, sem secreção, sem dor no corpo ou mal estar, relacionada ao contato com o causador da alergia, sendo raramente diagnosticada em menores de 2 anos. Portanto a Bronquiolite não induz a asma, não causa asma, e nem tem relação com a Asma, porém futuros asmáticos tem uma tendência a ter bronquiolites mais graves e com mais frequência.

Bronquiolite é tratada com Antibióticos?

Não! A causa é viral, e portanto os antibióticos não tem qualquer efeito nessa doença. O tratamento é inalação com soro fisiológico, hidratação, antitérmicos se causar febre, e oxigênio se o cansaço vier, importante!

É muito Grave ou tem sempre que Internar?

Ela ocorre em praticamente 100% dos menores de 2 anos de vida, com média de internações de menos de 5%  e mortalidade menor que 1%, demonstrando que 99% dos casos são leves, a moderados. As internações são indicadas nos casos moderados e graves, onde ocorre falta de ar na criança.

Se é Autolimitado, ou seja, cura sozinha, por que tratar?

Hoje em dia o tratamento da bronquiolite é de suporte, ou seja, tentamos melhorar o desconforto. Nenhum xarope é indicado de rotina.

E na internação? Precisa de jejum?
Precisa ficar naquela casinha o tempo todo?

Não e sim. O jejum só é necessário no caso de cansaço que aumente o risco de engasgo e consequente Pneumonia Aspirativa.

Aquela casinha (tenda) funciona como um concentrador de oxigênio, elevando seu teor de 21% para mais de 50% na maioria das vezes, facilitando a respiração da criança que precisa respirar menos para ter o mesmo oxigênio. Não é curativo, mas reduz tempo de internação e melhora o estado geral da criança possibilitando uma melhora mais rápida.

A medida de oxigênio deu baixa? E agora?

As medidas de oxigenação com oxímetros só são necessárias para avaliação de piora, e não devem ser utilizados como parâmetros exclusivos para a retirada de oxigênio e alta hospitalar. Valores acima de 94% sem oxigênio suplementar geralmente indicam alta hospitalar e entre 92-93% devem ser avaliados individualmente.

A frequência respiratória em valores normais é mais importante de todos os parâmetros nas crianças.

Dr. Christian Helfstein – Pediatra

CRM/SP 119.947 – Limeira/SP

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14 comentários

  1. Camila Cristina Ramos Lima disse:

    Boa noite
    Meu filho teve 2 dias de febre de 39.5 a febre passou por uns ele focou resfriado com catarro verde grosso com catarro saindo ate dos olhos dois dias depois voltou alta de novo 39.5
    E com cansaço respiratorio aquele movimento de força na barriga então o levei na pediatra dele (Sus)
    Sem ter marcado consulta que nem olhou para o bebe e me mandou levar no UPA porem agora ele esta sem febre e com um cansaço respiratorio que só ataca a noite pode ser bronquiolite ? Hj são 2 noites assim

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  2. Bom dia
    a bronquiolite não causa secreção e portanto não faz diferença se existe ou não secreção … o importante é saber se tem falta de ar conforme descrito no https://pediatriavirtual.com/falta-de-ar/
    abraços

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  3. Ana Shirlei disse:

    Dr., Boa tarde!
    Cuido do meu neto de seis meses e que apresentou um quadro parecido com o descrito acima.
    Levei o a emergência e foi medicado com Aerolin e cetoprofeno.
    A secreção secou no outro, ou seja, HOJE.

    Isso é o esperado ou teria que sair mais secreção?

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  4. Robson disse:

    Muito bom seu artigo Ótima dica

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  5. Bom dia
    Se for apenas nesse local sem outros sinais como descritos no pediatriavirtual.com/falta-de-ar probablemente é uma característica dele mesmo.
    Abraços

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  6. Mariam Euzébio disse:

    Boa tarde.
    Muito obrigada pelos esclarecimentos.
    Ainda se encontra com o nariz congestionado e tosse.
    Sempre lavo o nariz com soro, mas quando dorme, continua afundando um pouco na parte final do esterno. Já não sei se é normal da respiração dele ou caracteriza esforço respiratório.

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  7. Bom dia
    A secreção não tem a ver com a bronquiolite mas sim ao quadro viral que a desencadeou.
    O desconforto ocorre geralmente na primeira semana e como ele está com muita secreção, o mais provável é que esse cansaço seja devido ao nariz entupido.
    Como seu bebê esta agora?
    A duração média é de 14 dias então já deve ter melhorado.
    Abraço

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  8. Bom dia
    Sim, na internet temos muitos textos que não retiraram a realidade de 90% das doencas.
    Obrigado

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  9. Mariam Euzébio disse:

    Bom dia Dr. Estou com uma dúvida.
    Vi aqui que os sintomas da bronquiolite demoram a ir embora.
    Isso acontece com o desconforto respiratório também?
    Meu bebê de 1 ano está há uma semana com diagnóstico de bronquiolite e tosse.
    Até aí tudo bem.
    O que você está me preocupando é o cansaço e o esforço respiratório. Quando respira, afunda a fúrcula, e abaixo das costelas, no final do esterno. Principalmente quando está dormindo.
    Isso também demora a passar?
    Começou a sair uma secreção amarelada do olho tbm, amanhece todo colado. É consequência da secreção causada pela bronquiolite?

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  10. Mariam Euzébio disse:

    Obrigada pelo texto. Foi o mais completo e esclarecedor que encontrei.
    Tenho um bebê de 1 ano com bronquiolite e lendo seu post fiquei mais tranquila.

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  11. Eliane anjos disse:

    Adorei as dicas😍😍

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